Quase sempre os processos negociais são complexos e geralmente consagram algo intrigante para quem os acompanha. Ou seja, por vezes, é enorme a dificuldade de muitos em perceber a dinâmica, o intuito, o comportamento e o posicionamento dos diversos intervenientes nos mesmos.
Frequentemente, se constatam críticas (obviamente legítimas), por parte dos principais interessados no resultado desses processos, criticas não só, mas também dirigidas aos que os representam e motivadas pela falta de compreensão/ entendimento das posições, das reações, da estratégia, inclusive da incompreensão das mensagens, as quais poderão não ser aparentemente as mais interessantes, ou melhor elaboradas, porque têm de ser ponderadas, estratégicas e/ou simplesmente reais e sérias.
Os mais absortos saberão que nos dias de hoje, o “terreno” é extremamente fértil em populismo, mediatismo, superficialismo e mesmo em obscurantismo, onde muitos parecem agir em nome de um ideal, mas de forma simulada, com o intento de ocultar a sua real intenção. Outros ainda há que prometem e parecem não querer cumprir.
Por conseguinte, gostaria de realçar aquilo a que chamaram de “reunião” entre o Ministério da Administração Interna (MAI) e os muitos sindicatos e associações da PSP e GNR, no passado dia 12 de Abril.
Jamais colocando em causa a boa fé da senhora Ministra, importa-me mais recuperar as práticas passadas de má fé dos seus antecessores e respetivos processos.
Reitero, não colocando em causa as suas boas intenções, estranhei que, numa realidade de tantas dificuldades, limitações e falta de atratividade na PSP e GNR, com meses de contestação e com polícias extremamente desmotivados, num contexto tão tenso, delicado, urgente, com unanimidade partidária para a necessidade de resolução do tema “Suplemento de Missão”, tenha sido agendada uma “reunião” de um dia para o outro, convocadas dezenas de estruturas em simultâneo, mesmo as que não possuem representatividade.
E mais estranhei que no decurso dessa “reunião”, tenha sido colocado o ónus da apresentação de uma proposta para a atribuição do “Suplemento de Missão” nos sindicatos e associações. Tudo isto é estranho, mas, lamentavelmente, não é “virgem” neste tipo de processos.
Sou da opinião, aliás, não tenho dúvidas, que a haver uma proposta esta deve partir do Governo. Pois tratando-se de um processo negocial, obedece a esse formalismo e os argumentos para se defender a tese de que cabe ao Governo apresentar a proposta inicial, sustentando para isso tudo o que seja necessário, isso para lhe retirar a oportunidade de condicionar a opinião pública contra os sindicatos, porque uma vez mais isso irá acontecer. Esta realidade, admito, pode não ser compreendida a “olho nú”, mas os processos negociais têm mais de “jogos de bastidores” do que propriamente de formalismo ou transparência.
Como tal, seria importante contenção e não se criticar levianamente ou por ausência de informação ou de conhecimento, aqueles que tentam reagir às estratégias da parte que tem o poder de atribuir, mas seria sim interessante, acreditarem que quem representa os seus associados tem noção, não só da razão que lhes assiste, mas também da intenção de quem tudo pretende condicionar.
Naquilo a que chamaram de “reunião” a Senhora Ministra, surpreendentemente, juntou todas as estruturas, na segunda reunião (na verdade a primeira) irá separar as estruturas da PSP e da GNR, reunindo apenas com as que possuem representatividade.
Na recente campanha eleitoral, o candidato a Primeiro-Ministro Luís Montenegro, criticou o anterior Governo, pela atribuição de um “Suplemento de Missão” à PJ não contemplando a PSP e a GNR. Que era algo a ser “corrigido” rapidamente para haver equidade entre as forças e dessa forma se fazer justiça! Independentemente de quem saísse vencedor das eleições, este seria um assunto que gozava de prioridade sobre os restantes.
Agora Governo, a abordagem num vasto caderno de encargos apresentado, dá a entender que o “Suplemento de Missão” tem hoje um “peso” igual a tantos outros assuntos a serem resolvidos na pasta da administração interna. Deixando o “Suplemento de Missão” de ser ‘𝐎 𝐀𝐒𝐒𝐔𝐍𝐓𝐎’, passando a ser ‘𝐮𝐦 𝐚𝐬𝐬𝐮𝐧𝐭𝐨’.
Dia 22 de abril, amanhã, está na mão do Governo, iniciar a resolução dos problemas que identificou e que tanto preocupou antes das eleições. Solucionar aquilo a que se predispôs, em concreto e no imediato o “Suplemento de Missão”. É isto que os polícias esperam, é o que se impõe para que seja o primeiro passo à resolução com tempo e de forma estruturada, das demais e importantes questões, no cumprimento da palavra do atual Primeiro-Ministro. E claro, da vontade e bondade da senhora Ministra da Administração Interna.
𝑷𝒂𝒖𝒍𝒐 𝑺𝒂𝒏𝒕𝒐𝒔
Presidente da 𝑨𝑺𝑷𝑷/𝑷𝑺𝑷