Por razões do viver, acompanhei ao longo dos anos já idos os movimentos e ações policiais e, por esta escolha, o movimento político indissociável. E confesso que, durante os últimos 50 anos, nunca assisti a um Governo que, de forma extraordinária, diria mesmo sublime, que se esquivava a reivindicações laborais, como este o conseguiu com êxito assinalável.
Já devia ter percebido. Cheguei à idade onde já se sentem os sinais de que o caminho está a aproximar-se do fim. Há cansaço em excesso em cada passo, um cansaço esperado, de tantas vezes repetido, quando olho para trás e revejo ao longe e ao perto o trilho por onde caminhámos sem sobressalto, sem impulso de energia, lento, preguiçoso. Uma lonjura vivida que somos nós – como sempre fomos – lânguida, onde a energia se esgota num punhado de emoções.
Por razões do viver, acompanhei ao longo dos anos já idos os movimentos e ações policiais e, por esta escolha, o movimento político indissociável. E confesso que, durante os últimos 50 anos, nunca assistira a um Governo que, de forma extraordinária, diria mesmo sublime, que se esquivava a reivindicações laborais, como este o conseguiu com êxito assinalável.
Há muito que as forças de segurança são tratadas com o mesmo entusiasmo com que nos dedicamos a arrumar um sótão de velharias. Adiamos sempre o dia, inventando desculpas patéticas ou fazendo de conta que essa dor de cabeça não existe.
Foi assim que, principescamente, o Governo tratou reclamações, reivindicações, exigências de guardas e de polícias. Aumento salarial, OK, depois falamos disso. Carreiras, OK, tenham calma que estamos a tratar. Viaturas empanadas, material obsoleto, ausência de meios humanos e materiais, OK!, não se preocupem que está a ser tratado. Instalações obsoletas, OK!, já temos uma equipa a estudar o assunto.
Passaram os anos e cresceram os protestos. Ano após ano. Cada vez mais insurgentes. Até às grandes manifestações que, no último mês, sacudiram Lisboa e o Porto. Dezenas de milhares de polícias em luta para os quais já não servia a desculpa da infiltração de forças extremistas. O Governo, já em fim de ciclo, encolheu os ombros. Podem berrar, protestar à vontade. Nós estamos de partida e o próximo governo que vos ature.
Já em desespero, meia dúzia de polícias tiveram a ideia de adoecer e, por essa razão, foram suspensos jogos de futebol. O País acordou! O rebuliço tomou conta das redações. O Governo estremunhado reuniu oficiais e estado maiores. Os rebeldes tinham tocado no coração do Povo. O País estrebuchou de ansiedade. Tudo o restou se esqueceu. Tocar na Bola é ferir a alma pátria. É, afinal de contas, magoar o Povo que juraram servir. Não se faz!
𝑭𝒓𝒂𝒏𝒄𝒊𝒔𝒄𝒐 𝑴𝒐𝒊𝒕𝒂 𝑭𝒍𝒐𝒓𝒆𝒔
“𝑃𝑖𝑞𝑢𝑒𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑃𝑜𝑙𝑖̄𝑐𝑖𝑎”
𝐅𝐥𝐚𝐬𝐡 11.02.2024