Relembro a todos que a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) já lá vai e efetivamente foi um sucesso no tocante também à capacidade de organização e segurança.
Esse evento que decorreu em Portugal, implicou uma mobilização inequívoca dos polícias portugueses, para garantia de que nada falhasse, ainda que exista quem afirme ter sido demasiado e desnecessário.
Essa mobilização dos polícias, no caso da PSP, traduziu restrições de folgas, férias, entre outros, dizia-se na altura que a envergadura do evento traria a necessidade desse esforço suplementar, em nome do país.
Relembro que os profissionais da PSP disseram ‘sim’, estiveram com o país uma vez mais, sacrificando as suas folgas e férias, as suas famílias inclusive, disponibilizaram-se para o evento e tudo correu bem…
Com sinceridade também acho que a JMJ correu bem, apesar de algumas situações que refletem já problemas crónicos de organização e gestão de efetivo, os profissionais da PSP estiveram à altura e a sua disponibilidade correspondeu a uma percepção de necessidade e da relevância do que estava em causa.
Já mesmo antes da JMJ, os profissionais da PSP evidenciaram a mesma postura, disponibilidade, responsabilidade e compromisso e assim, conseguiu-se cumprir as diversas missões e permitir a realização de outros tantos eventos, sem descurar o serviço normal e cada vez mais alargado, para satisfação das necessidades das populações.
No pós JMJ, outros eventos foram surgindo, uns mais locais, outros mais regionais, outros de caráter nacional, que também implicaram restrições de folgas, folgas compensatórias, entre outros, uma vez mais, em nome do bom funcionamento da PSP e sob a capa dos famigerados “interesse público e disponibilidade permanente “…
Entre os dias 5 e 6 de Outubro realizou-se o Encontro do Grupo de Arraiolos, na cidade do Porto e também, veja-se, implicou nova restrição de folgas, férias, folgas compensatórias, entre outros.
Não sei se será necessário colocar estas restrições com tanta regularidade e nem discuto a sua necessidade em termos de planeamento e enquadramento operacional, não tenho informações e nem tenho competência para essa apreciação e decisão, contudo, tenho dúvidas e receios e apetece-me questionar, aliás, seguindo o apelo de Sua Santidade nos muitos discursos que proferiu em Portugal, e uma das dúvidas é perceber a fundamentação sobre o conceito de disponibilidade permanente e de interesse público.
Outra das dúvidas é perceber a distinção entre normal e excecional, ou ainda perceber o que se pretende dizer com “esforço suplementar’.
Duvido ainda que qualquer evento numa qualquer cidade, seja lúdico, desportivo ou religioso, se realize sem recurso ao tal esforço suplementar, ou ao recurso à tal “excepção” do corte de folgas e férias aos polícias.
Não sendo sequer razoável que o governo se vá pronunciar com um pedido de desculpas, atendendo ao oportunismo político de garantir o trabalho forçado, a ASPP/PSP, na condição de representante dos polícias de todas as carreiras e categorias, sente-se na obrigação de humildemente e com vergonha alheia, pedir desculpa às famílias dos polícias que, por erros políticos e desobediência legal, não permitem deles usufruir, nem sequer nas suas folgas.
E deveria pedir desculpa por não conseguir ou não querer reverter a situação, e insistir em agravar a situação por ausência de políticas que respondam aos problemas de base.
Também porque quando invoca tratar-se excecional, é apenas uma forma hábil de demonstrar o que não existe, ou seja, efetivo suficiente para todas as necessidades, valências e compromissos assumidos.
E ainda neste sentido, aproxima-se o serviço de fronteiras a cargo da PSP e naturalmente tantos e tantos eventos que, irão na minha opinião colocar a disponibilidade permanente e o interesse público, mesmo com fundamentação ténue ou dúbia, como recurso às restrições tão excecionais, ou seja, tão naturais…
Não referi as compensações face a estas constantes exigências e excecionalidades, porque o discurso político é matreiro e propagandista e elas são inexistentes.
Artigo de opinião de Paulo Santos, presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP)